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sexta-feira, 31 de julho de 2020

SOBRE O CONHECIMENTO DE DEUS


SOBRE O CONHECIMENTO DE DEUS 

Conhecer a Deus envolve muito mais do que simplesmente saber sobre Ele. Em outras palavras, o conhecimento sobre Deus não a mesma coisa que o conhecimento de Deus.

O filosófo Baruch Espinosa (1632-1677) sabia sobre Deus, mas não o conhecia de fato, pois a sua visão sobre Deus era racionalista. Segundo Gilberto Cotrim, Espinosa desenvolveu na sua filosofia um racionalismo radical, que se caracterizou pela crítica às superstições religiosas, política e filosófica. De acordo com Espinosa, “a fonte de toda sua superstição é a imaginação incapaz de compreender a verdadeira ordem do universo (COTRIM, Gilberto. Fundamentos de filosofia, p. 152).

Espinosa escreveu um livro “Ética” para combater essas superstições, e buscou na sua escrita, uma forma de provar essa teoria como numa demonstração geométrica, ou seja, a natureza racional de Deus, que se manifesta em todas as coisas, um Deus imanente que “não está fora do universo, nem dentro do universo, pois ele é o próprio universo”, segundo as palavras de Cotrim fazendo uma referência a fala de Espinosa (pp. 152-153).

Esse entendimento racionalista de Espinosa demonstra um viés de que tudo se torna compreensível pela razão, ou seja, para ele a filosofia seria o conhecimento racional de Deus e “a liberdade humana consistiria na consciência da necessidade” e isso reflete numa negação de que haveria livre-arbítrio, uma vez que para Deus (que se identifica com a natureza) tudo é necessário, e não poderia haver transgressão pois faz parte da natureza divina. Diante disso, Espinosa defendia a seguinte teoria: “a equação Deus, uma natureza, que significa: Deus é a própria natureza criadora universal, e portanto, tudo o que ele defendia estava fundamentado no pensamento de que tudo que existe foi criado por ele e, assim, mantém-se no seu Ser” (p. 152).

Nas palavras de Herman Bavinck sobre Espinosa, que é mencionado em sua obra “Ética” sobre a sua visão panteísta, ele disse: “O panteísmo foi, porém, novamente restaurado à posição de honra na moderna filosofia de Spinoza. Em sua opinião, a substância é eterna e necessariamente a causa eficiente e imanente do mundo; o mundo é a explicação do ser divino, e particulares são os modos pelos quais os atributos divinos de pensamento e extensão são determinados de maneira particular (Bavinck, Herman. Dogmática Reformada. Deus e a Criação, p. 419).

À luz desse argumento, é evidente que Espinosa tinha uma visão contrária à visão de Bavinck, pois Espinosa defendia a filosofia panteísta onde Deus é tudo e tudo é Deus. Espinosa certamente foi a porta de entrada para outros filósofos que também apoiavam essa ideia, onde a filosofia encontrou cada vez mais aceitação e foi elevada, por Schelling e Hegel, como o sistema do século XIX. A doutrina bíblica da criação foi totalmente rejeitada (p. 419).

Bavinck, na sua obra (Dogmática Reformada), disse as seguintes palavras: “A cosmovisão da Escritura é radicalmente diferente. Desde o início o céu e a terra são distintos. Tudo foi criado com uma natureza própria e repousa em ordenanças estabelecidas por Deus. Sol, Lua e estrelas têm sua própria missão exclusiva; plantas, animais e seres humanos são distintos por natureza. Há a mais profusa diversidade e, apesar disso, nessa diversidade, há também um tipo superlativo de unidade. O fundamento tanto de diversidade quanto de unidade está em Deus. Foi ele que criou todas as coisas de acordo com sua sabedoria insondável, que continuamente as sustenta em suas naturezas distintas, que as dirige e governa, mantendo-as com suas energias e leis naturais e que, como o bem supremo e objetivo máximo de todas as coisas, é buscado e desejado por todas as coisas segundo sua medida e modo. Aqui há uma unidade que não destrói, mas mantém a diversidade, e uma diversidade que não existe às expensas da unidade, mas se desenvolve em suas riquezas. Em virtude dessa unidade o mundo pode, metaforicamente, ser chamado de organismo, no qual todas as partes estão conectadas umas às outras e se influenciam reciprocamente. Céu e terra, homem e animal, alma e corpo, verdade e vida, arte e ciência, religião e moralidade, estado e igreja, família e sociedade, e assim por diante, embora sejam todos distintos, não estão separados. Há uma ampla variedade de relações entre eles: um vínculo orgânico, ou, se desejar, um vínculo ético, os mantém juntos” (Vl. 2, pp. 444-445).

É perceptível que a cosmovisão que Bavinck apresenta do conhecimento de Deus é radicalmente contrária ao pensamento de Espinosa sobre o conhecimento de Deus, pois a Escritura aponta que cada coisa têm sua natureza própria e não pode-se dizer que Deus é tudo e tudo é Deus, como acredita Espinosa, mas o contrário disso é verdade, onde Deus é o dono de tudo, e cada coisa criada por ele tem sua natureza própria. Porém, sua essência não é criada como todas as coisas.

O pensamento de Herman Bavinck apresenta uma visão contrária ao pensamento de Espinosa que defendia que Deus e as demais coisas eram a mesma coisa, como vimos acima, pois para Bavinck, a Escritura apresenta um Deus soberano que, embora seja distinto, governa todas as coisas e está presente em todos os lugares, e não presente nas coisas em si. Seu pensamento e conhecimento de Deus estavam apoiados totalmente na revelação de Sua Palavra.

Nas palavras de Bavinck: “Nem a objetividade científica nem o subjetivismo completo são possíveis. Todo conhecimento está arraigado na fé, e, para que a fé seja real, ela deve ter um objeto que não pode ser conhecido. Isso requer uma revelação divina que é mais que um cumprimento de um desejo subjetivo. A religião deve ser verdadeira e fornecer seu próprio caminho para o conhecimento e a certeza” (Vl 1, p.59).

Desta forma, o conhecimento de Deus para Bavinck não estava fundamentado num racionalismo radical, nem na subjetividade científica e nem no subjetivismo completo, mas sim, arraigado na fé, e somente na verdadeira religião, pois é a única que pode oferecer o verdadeiro conhecimento e a certeza que está expressa em todas as coisas, mas não são todas as coisas.

As palavras de J. I. Packer nos trazem uma visão sobre o que de fato é o conhecimento de Deus. Na sua obra O Conhecimento de Deus, ele disse: “Conhecer a Deus é mais do que saber sobre Ele; é entrar em contato com Ele enquanto se revela a você e ser dirigido por Ele à medida que toma conhecimento de você. Saber sobre Deus é uma pré-condição para que se confie nEle (“como crerão naquele de quem não ouviram?” Rom 10:14), mas a extensão do nosso conhecimento a seu respeito não pode servir de medida para a profundidade desse conhecimento. John Owen e João Calvino sabiam mais teologia do que John Bunyan ou Billy Bray, mas quem poderá negar que os últimos conheciam seu Deus tão bem quanto os primeiros? (Os quatro, é claro, eram profundos pesquisadores da Bíblia, o que vale mais que qualquer conhecimento teológico). Se o fator decisivo fosse o conhecimento da doutrina, naturalmente os maiores estudiosos da Bíblia conheceriam a Deus melhor que os outros. Mas não é isso o que acontece; você pode guardar na mente a doutrina correta, sem jamais provar em seu coração as realidades a que se refere; e um simples leitor da Bíblia e ouvinte de sermões que esteja cheio do Espírito Santo desenvolverá um relacionamento mais profundo com seu Deus e Salvador do que homens mais instruídos que se contentem apenas com estarem teologicamente certos. A razão disto é que o primeiro entrará em contato com Deus a respeito da aplicação prática da verdade em sua vida, enquanto o último não terá essa preocupação” (O Conhecimento de Deus, p.31).

Portanto, pensamentos trazem consequências, e por isso, o nosso pensamento deve apoiar-se somente no conhecimento de Deus, verdadeiro e absoluto, pois outros pensamentos que não se apoiam naquilo que a absoluta palavra de Deus diz, certamente serão pensamentos relativos, subjetivos, e cheios de erros.

Por fim, Deus é o criador de tudo, governa todas as coisas, tem a sua própria essência, está livre de influência e não pode ser comparado como se fosse o próprio universo, mas sim, o dono do universo.

(José Junior)

Créditos da imagem: Logos 8
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Recomendação de Leitura:
1. PACKER, J. I. O Conhecimento de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
2. BAVINCK, Herman. A Filosofia da Revelação. Brasília: Editora Monergismo.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

UMA VIDA TEMPORÁRIA EM UMA REALIDADE ETERNA


UMA VIDA TEMPORÁRIA EM UMA REALIDADE ETERNA 

"Pois que tem o homem de todo o seu trabalho e da fadiga do seu coração, em que ele anda trabalhando debaixo do sol? Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho, desgosto; até de noite não descansa o seu coração; também isto é vaidade." (Eclesiastes 2:22‭-‬23, ARA)

Nesses versículos, o trabalho em si não é apontado como uma maldição, pois o trabalho é algo bom, que foi criado por Deus. Porém, a dor, a tristeza e  o cansaço extremo, que assolam o trabalhador, não são resultados da benção de Deus (o trabalho), mas da queda, pois foi o pecado que causou todas essas coisas na vida dos seres humanos. 

Por isso, tudo é vaidade, tudo é temporário e nada pode trazer satisfação total ao coração do homem quando o mesmo busca satisfação nas coisas temporais, ou nas coisas dessa vida sem um propósito verdadeiro.

O contentamento do ser humano jamais será pleno nessa vida, porque tudo aqui é temporário, ou como disse o Pregador (Salomão, 1.1) sobre a obra penosa que é feita debaixo do sol "é como correr atrás do vento" (2.17). Em outras palavras, tudo nessa vida é correr atrás do vento, como enfatiza o Pregador. 

No entanto, não devemos nos esquivar de aproveitar aquilo que a vida aqui nesta terra nos traz. Mas como devemos aproveitá-la? Reconhecendo que a vida não existiria sem o dom de Deus, e portanto,  não devemos olhar para a vida sem a expectativa do doador da vida: o próprio Deus, que em Cristo nos concedeu vida, e vida em abundância (Jo 10:10).  

Tudo é temporário de fato, mas aqueles que creem em Jesus, embora a vida aqui nesta terra seja passageira e as dores do trabalho ainda os persigam, onde tudo não passa de um sopro, em Cristo os filhos de Deus não correm atrás do vento, pois uma vida com Cristo significa reconciliação com Deus, onde todas as coisas passaram a ser novas, onde o coração de pedra  ganhou uma nova forma (Ez. 36.26), inclusive uma nova perspectiva:  a longevidade da vida na eternidade. Ou seja, a brevidade da vida não prevalecerá diante da longevidade da vida em Cristo, que prometeu a eternidade além dessa vida. 

Ainda que os filhos de Deus tenham que  continuar enfrentando as dores do trabalho, o viver aqui nesta terra não será simplesmente algo breve, penoso e  temporário para os filhos de Deus, pois a vida concedida aos crentes é um dom de Deus que deve ser aproveitada com ação de graças, mesmo que seja breve, penosa e temporária. 

Além disso, algo importante precisa tranquilizar o coração dos filhos de Deus, para que tenham a expectativa de que a vida em Cristo, não está limitada ao tempo, mas está alicerçada em algo eterno, onde os justos viverão  a verdadeira longevidade da vida, que envolve uma trajetória perfeita, sem as dores penosas do  trabalho e sem a limitação de que tudo será passageiro, pois tudo será eterno com Cristo. 

Portanto,  crer em Jesus é algo maravilhoso que está além dessa breve e temporária vida que corre atrás do vento. Se você crê, glórias a Deus por isso. A sua vida terá longevidade em Cristo. Porém, se você não crê, e vive uma vida onde tudo é correr atrás do vento, e não tem expectativa da longevidade da vida em Cristo,  você precisa se arrepender e confessar Jesus como Senhor de sua vida, pois   Cristo é o único que pode te justificar diante de Deus e conceder a você uma vida incomparavelmente melhor do que correr atrás do vento.

Créditos da imagem: Logos 8 - Imagem Cidade de Jerusalém. 

(José Júnior)

quinta-feira, 23 de julho de 2020

CONFIANÇA NA PALAVRA DE DEUS EM TEMPOS DE APOSTASIA


CONFIANÇA NA PALAVRA DE DEUS EM TEMPOS DE APOSTASIA 

“As palavras do Senhor são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes." (Salmos 12:6, ARA)  

 

O mundo está no auge de sua impiedade, infidelidade, falsidade, lábios soberbos, homens infiéis (inundados nas suas apostasias), e que oprimem os pobres e não se atentam aos gemidos dos necessitados. Contudo, o Senhor não está isento de toda essa opressão. O Senhor se levanta em favor dos que estão gemendo em suas necessidades da mesma forma que se levantou em favor dos pobres e os colocou a salvo (Sl 12:5).  

Embora toda essa impiedade, falsidade, e todos os demais erros estejam assolando o povo de Deus, e muitas vezes causando a impressão de que a igreja esteja desaparecendo, o salmista relata, que mesmo diante de homens impiedosos e mentirosos, a Palavra do Senhor é pura como prata refinada, ou seja, sem qualquer mistura, ou margem de erro; isto é, perfeita e pura (Sl 19:7-8). Em outras palavras, a promessa do Senhor não é falha, e ainda que haja gemidos constantes, o salmista demonstra a sua convicção da perfeição da promessa (Palavra) de Deus, quando disse: "Portanto, Senhor, sabemos que protegerás os oprimidos e para sempre os guardarás desta geração mentirosa, ainda que os perversos andem confiantes, e a maldade seja elogiada em toda a terra (Sl 12:7‭-‬8, NVT). ‬  

Mesmo que a vileza seja exaltada, a promessa permanecerá, a Palavra é pura e nunca falhará. O Senhor é fiel a tudo quanto revelou. O verbo encarnado é perfeito e garante proteção aos que são perseguidos e injuriados, pois estes são considerados bem-aventurados no reino (Mt 5:11), e abençoados pelo próprio Deus Filho. A mesma promessa vista no salmo, também pode ser visível hoje, pois observamos o mundo nas mesmas condições, e os homens ainda vivem em função de oprimir os necessitados. No entanto, o Senhor está atento e os Seus olhos repousam sobre os justos (1Pe 3:12).  

Sendo assim, a Palavra do Senhor está em vigor e continuará para todo o sempre. Ainda que os pobres e os aflitos sofram amargamente nas mãos dos ímpios (Sl 12:5), a esperança na glória de Deus é um dos frutos da justificação pela fé (Rm 5:1-2), e por isso, esse presente valioso visa não apenas uma esperança qualquer, mas sim, uma esperança na promessa eterna constituída em Jesus Cristo, que sofreu a terrível morte de cruz (Fp 2:8). O Senhor colocará a salvo todo aquele que suspira. (Sl 12:5).  

Portanto, amados, não temamos! O Senhor está assistindo e está agindo em favor de nós. A Sua Palavra não contém erros, a sua promessa não pode ser quebrada, e a consequência dessa fidelidade, será uma vida que sempre estará amparada pela soberana graça. Não temas! Creia que mesmo diante das aflições desse mundo, nós devemos continuar a nos lembrar das palavras de Cristo aos discípulos, quando disse: "Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo" (Jo 16:33). Tenha bom ânimo, filho amado, pois Cristo passou por todos os tipos de aflições e venceu todas elas. Confie em Jesus e se anime, pois ainda que estejamos cercados pelo mundo das aflições, Jesus Cristo, o verbo encarnado é a palavra viva e perfeita que nos assiste e nos garante bem-aventurança para glória do Seu nome.  

Por fim, guarde a Palavra de Deus, pois ela continua sendo a verdade absoluta em tempos de mentiras. Guarde a Palavra de Deus no seu coração, pois assim como o salmista, você poderá clamar (com esperança) por socorro em tempos difíceis (Sl 12:1), e além disso, será ensinado mesmo diante dos perigos, a não se esquecer e nem se desviar da Lei do Senhor (Sl 119:109-110). Confie no verbo que se encarnou e se revelou a nós “cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Ele é a verdade absoluta em tempos de apostasia e o único que pode ser a sua esperança verdadeira em meio a opressão.  

(José Jr.)

sábado, 18 de julho de 2020

A VIDA DEDICADA DE GEORGE WHITEFIELD: UM COMPROMISSO SINGULAR COM JESUS CRISTO

Muitos homens e mulheres foram chamados por Cristo, a fim de trabalharem em favor do Reino de Deus. Esse trabalho para o qual foram designados (os filhos de Deus) exige uma vida de dedicação e entrega. O próprio Filho de Deus, como disse Paulo, viveu uma vida de dedicação, sofrimento e entrega total (Fp 2.5-8). Hernandes Dias Lopes disse em um de seus sermões, que o "caminho feito por Jesus até a cruz deve ser o mesmo caminho que nós devemos fazer". Ou seja, a vida de dedicação e entrega de Jesus devem ser o maior exemplo de como devemos viver uma vida dedicada a vontade de Deus (Lc 22.39-42). 

No entanto, poucos estão dispostos a andar pelo caminho espinhoso da cruz, que embora seja estreito e cheio de dor, ao final produzirá vida eterna aos peregrinos que perseverarem nesse caminho (que exige sacrifício e abandono do eu) (Mt 7:13-14).

 Embora o significado da palavra dedicação, que expressa "qualidade ou condição de quem se dedica a alguém ou algo", seja uma definição corriqueiramente usada em nossa sociedade, nós precisamos nos perguntar o que a Bíblia diz sobre como devemos nos dedicar e a quem devemos dedicar a nossa vida. Para responder essa pergunta é importante dar a devida atenção ao que Jesus disse em um dos mandamentos: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12:30). Nesse mandamento, nós encontramos a resposta sobre a quem devemos dedicar a nossa vida e como devemos nos dedicar: amar somente a Deus oferecendo a nossa vida como um todo. Isso exige dedicação e entrega total. 

Ainda que encontremos homens que se entregam pelo evangelho com toda a sua força, quando olhamos para o passado, observamos que existiram homens mais valentes e corajosos, que amavam a Cristo profundamente, e foram (e ainda são) influenciadores de almas, que amavam profundamente e ensinavam outros a amarem a Cristo com toda alma e toda a força.  

Um dos homens que exemplifica uma vida de dedicação e influência era um homem conhecido como o príncipe dos pregadores. Não me refiro a Spurgeon, mas sim, o exemplo em quem Spurgeon se apoiou. Segundo Lloyd-Jones, George Whitefield foi o maior pregador inglês de todos os tempos. [...] A sua influência na Inglaterra, sua influência em Gales, sua influência na Escócia e sua influência na América em especial, está além do que se possa calcular. Whitefield era um homem incansável, cujo ministério, “não conhecia descanso”. Esse homem respirava o evangelho e dedicou a sua vida mesmo diante de uma doença que o acometeu (Steven J. Lawson, O Zelo Evangelístico de George Whitefield, p.38-39, 43).  

Segundo Steve Lawson, qualquer que seja o nosso entendimento a respeito desse homem e de seu zelo evangelístico, é preciso levar em consideração a sua vida espiritual. Mesmo diante de uma investigação superficial sobre George Whitefield, perceberemos que pelas poucas coisas que alguns estudiosos mencionam a respeito desse homem, tais relatos revelam Whitefield como um homem “denominado por dedicação singular a Jesus Cristo” (p.43).

Porém, qual a razão de tanta dedicação e tanto sucesso no ministério? A resposta é óbvia, pois Whitefield amava Jesus Cristo e tinha um grandioso afeto pela glória de Deus. Ele era um "itinerante incansável", dedicado a pregação do evangelho (O Zelo Evangelístico de George Whitefield, p.44) Já o seu sucesso, estava alicerçado em cinco aspectos que certamente impulsionavam esse homem a se dedicar ainda mais.  

Em primeiro lugar, ele era um home imerso nas Escrituras, que tinha um compromisso inabalável com as Escrituras, ou como disse Dallimore, citado por Steven Lawson: "Podemos vê-lo às cinco da manhã em seu quarto", ou seja, lendo as Escrituras (p.45) 

Em segundo lugar, ele era um homem que orava sem cessar, que vivia saturado pela oração. Ele insistia que os filhos de Deus deveriam orar secretamente. "Conversar menos com os homens, e mais com Deus". Ele se derramava em uma vida de oração diária e se questionava sobre sua fé com diversas cobranças, a fim de que fosse um cristão melhor e mais dedicado (p.47).

Em terceiro lugar, Whitefield era focado em Jesus Cristo. Jesus sempre foi o seu único amor. Ele também encorajava os seus ouvintes para que olhassem somente para Cristo e tivessem sede diariamente pela justiça de Cristo (p. 50-51). 

Em quarto lugar, ele era revestido de humildade. Ele confessava em suas orações as seguintes palavras: "Sou menor que os menores dos santos — sou dos principais pecadores". Ele compreendia que se houvesse obsessão pelo seu próprio eu, a pregação não teria efeito nenhum. Sendo assim, após examinar-se, ele disse: "Ah, esse amor próprio, essa vontade de exaltar o eu! É diabo dos diabos". Ele era humilde e precavido, pois sabia que o seu eu poderia derrubá-lo (p.52-53). 

Em quinto e último lugar, ele lutava por santidade. Ou seja, a sua vida foi marcada por piedade, uma busca pela santidade pessoal. Ele entendia que "a santidade jamais poderia ser obtida enquanto estivermos agarrados ao pecado". Whitefield levava a sério a sua vida pessoal e lutava constantemente contra o pecado e reconhecia que a santidade era uma "transformação progressiva", uma busca diária por uma vida integra de acordo com a Escritura (p.55-56). 

Tal era a dedicação desse homem. De fato, ele se apresentou à Deus oferecendo sua vida "como sacrifício vivo e santo". Em um de seus clamores a Deus, Whitefield disse: "Entrego a ele minha alma e meu corpo, a ser disposto e gasto em seu labor como ele desejar. Daqui em diante eu resolvo, com sua assistência... viver uma vida mais restrita que antes, entregando-me à oração e ao estudo das Escrituras [...] Deus me dê saúde, se for sua bendita vontade... Eu me entrego inteiramente a ele" (p.58). 

Portanto, diante desse breve relato da vida dedicada de Whitefield, nós precisamos refletir se de fato temos nos dedicado como deveríamos, e se temos nos oferecido como sacrifício vivo e santo a Deus (Rm 12.1). Observamos anteriormente uma vida, que além de Cristo, exemplifica uma vida de dedicação e uma vida que estava disposta a trilhar os mesmos caminhos de Jesus. Sendo assim, o quanto você tem se dedicado e se entregado ao trabalho do Senhor? O quanto você tem amado Cristo? O quanto você segue os exemplos de Cristo? O quanto você se identifica com a vida dedicada de Whitefield? O quanto você está disposto a perder por causa de Cristo e a se dedicar inteiramente a ele? Você teria a mesma coragem que os Jovens Moravianos, que se ofereceram para serem escravos para sempre, a fim de pregarem o evangelho? Você estaria disposto a dedicar a sua vida como esses jovens?  

Por fim, ame servir a Cristo e dedique-se como um todo, como sacrifício vivo e santo, pois essa é a exortação de Paulo aos romanos, bem como a todos nós que cremos no Senhor (Rm 12.1). Já é hora de despertar do sono (Rm 13.11-12), pois o dia se aproxima.  

Que o exemplo de dedicação de George Whitefield seja um exemplo para nós, e que assim, sejamos saturados pelas Escrituras, saturados por uma vida de oração, focados em Cristo, revestidos de humildade e guerreiros na luta pela santificação sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12:14). 

 José Jr. 
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SUGESTÃO DE LEITURA: 
1 - LAWSON, Steven J. O Zelo Evangelístico de George Whitefield: Um perfil de homens piedosos. SP: Fiel, 2013. 
2- Os Jovens Moravianos. Disponível em: <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2009/08/jovens-moravianos/>  
3 - PACKER, J. I. O Conhecimento de Deus. SP: Cultura Cristã, 2014.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS


               
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.  (2 Timóteo 3.16-17, ARA)


Somente as Escrituras. Essa foi a instrução crucial de Paulo para que o ministério de Timóteo fosse bem-sucedido e glorificasse a Deus. Para que Timóteo recebesse essas instruções de Paulo, a permanecer naquilo que tinha aprendido, era porque, certamente, o povo estava se desviando e trocando os ensinamentos das Escrituras por falsos ensinos. Kevin Vanhoozer parafraseando David Wells, um historiador do passado que falou do tema Sola Scriptura (um dos pilares da Reforma Protestante), disse algo muito interessante em relação ao evangelicalismo de sua época deixando claro a sua posição sobre o que estava acontecendo com os cristãos. Vanhoozer parafraseou, dizendo que, “O profeta lamentador do evangelicalismo lamentou por anos a tendência dos evangélicos de trocarem o seu direito de primogenitura, Sola Scriptura, por um prato de cozido de sola cultura.” Diante disso, nós percebemos a importância das Escrituras tanto para Timóteo, quanto para todo o povo de Deus que lutou contras as heresias, e ainda continuam lutando contra os falsos ensinos. 

Paulo expressou a importância das Escrituras em cada detalhe do texto direcionado a Timóteo. Desta forma, quero destacar duas características (de 2Tm 14-17) nos versículos 16-17, que apontam para quatro pontos importantes que envolvem a utilidade da Palavra de Deus, para que o homem de Deus seja preparado de acordo com a Palavra.
 
Em primeiro lugar, a palavra "Ensinar"está relacionada com aquilo que Paulo está falando sobre os ensinos dele. E o que está implícito aqui é a atividade de comunicar conhecimento acerca da revelação de Deus em Cristo.  Em segundo lugar, a palavra "Repreensão" significa o confronto, o teste, ou um controle de qualidade de fé diário! Precisamos fazer advertências baseadas na Palavra e também advertências ao nosso próprio coração. Em terceiro lugar, vemos a palavra "Corrigir". O significado dessa palavra é restaurar o estado correto. É utilizado um termo médico aqui nessa palavra como, ortopedia, ou ortodontia, que tem o sentido de colocar no lugar correto, ou corrigir o que está errado. Por último, "Educar na justiça". Essas palavras têm o sentido de educar a criança, num processo que envolve disciplina! No mundo greco-romano significava educar com disciplina, ou seja, não era apenas chamar a atenção de uma criança, mas se fosse necessário, era aplicado castigos físicos. Diferentemente de hoje, naquela época um pai não seria processado por dar algumas palmadas no seu filho", pois a disciplina não era algo banal, e sim, um meio eficaz para educar as crianças.

Diante dessas definições, nesses quatro pontos, nós observamos sobre o ensino acerca da revelação de Deus em Jesus Cristo, a importância de repreender segundo a Palavra de Deus, a correção das Escrituras quando erramos e somos colocados no caminho correto, e isso também vemos como uma demonstração de amor por um Pai que corrige os filhos a quem ama (Hb 12.6-7). E por último, a educação na justiça envolve disciplina quando erramos. Deus nos perdoa, mas logo após o perdão, nós somos disciplinados pelo erro. Sendo assim, Deus não chama a nossa atenção apenas com o mover do Espírito, mas também nos disciplina, e se necessário, também nos dá a punição devida, para que sejamos educados corretamente na justiça fazendo o que é certo, e não aquilo que da certo. Por fim, embora a última característica, bem como todas as outras, sejam uma instrução específica para Timóteo, também podem ser aplicadas ao crente. A última característica é “a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado”. O Homem de Deus mencionado aqui no texto, é o cristão. E a palavra “habilitado” aqui é ser perfeito no que ele é e faz. Ou seja, para exercer adequadamente o ofício pelo qual Timóteo foi chamado, ele precisava ser habilitado ou equipado pela suficiência das Escrituras, porque não há revelação fora delas. 

Paulo, iluminado pelo Espírito Santo, demonstra não estar satisfeito, enquanto a Palavra de Deus não cumprir plenamente sua missão, e o crente não tiver alcançado “a medida da estatura da plenitude de Cristo.” Esse poder para alcançar estatura vem de Deus, e, portanto, Paulo disse a Timóteo: permaneça firme na doutrina genuína. Essa exortação também é direcionada a todos nós que cremos no Senhor. Sendo assim, qual tem sido a utilidade das Escrituras para nós? Elas estão nos ensinando, repreendendo, corrigindo e educando-nos a fazermos o que é certo? Que possamos refletir sobre isso, amados irmãos, e que o Senhor nos ajude a permanecermos alicerçados somente nas Escrituras, pois elas mostrarão como devemos viver a vida cristã. Que as palavras de Lutero nos tragam encorajamento, a fim de não negociarmos a verdade trocando-a por fábulas: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. Sendo assim, faça o que é certo; não o que dá certo.
 Sola Scriptura.

(Jose Junior - membro da Igreja Presbiteriana do Brasil; seminarista do Seminário Teológico Presbiteriano "Rev. José Manoel da Conceição")

sábado, 4 de julho de 2020

O Efeito Libertador da Teologia Reformada na Educação



Desde que pisamos nesta terra vivemos um dilema no que diz respeito aos caminhos do conhecimento humano. 

Quer tenhamos sido encaminhados em lares cristãos, quer tenhamos sido alvo de conversão posterior, encontramos dificuldade em reconciliar o chamado e os princípios cristãos – as determinações e ensinamentos da Palavra de Deus – com a aquisição progressiva de conhecimentos a que somos submetidos desde a nossa tenra idade e à qual nos dedicamos, depois de firmarmos nossos próprios horizontes e interesses.

Desenvolvemos com muita facilidade o pensamento de que as coisas espirituais, as questões da igreja, as determinações da Palavra dizem respeito ao nosso futuro espiritual. Enquanto isso, absorvemos conhecimentos diversos, seguimos uma carreira, educamos os nosso filhos e somos educados em um universo estanque, distanciado e divorciado dos conceitos das Escrituras.

Não é que duvidemos da veracidade da Bíblia – até aceitamos tudo e aceitamos doutrinas contidas na Palavra que, muitas vezes, não entendemos plenamente, mas as recebemos tão somente pela fé. No entanto, deixamos que essas convicções não perturbem muito a nossa vida diária, nem as carreiras e profissões que escolhemos. Elas são segregadas àquelas épocas e ocasiões que dedicamos à expressão de nossa religiosidade – cultos públicos e devoções privadas.

Se analisarmos com honestidade a nossa postura de vida, vamos nos encontrar, na realidade, em uma situação de ESCRAVIDÃO em muitos sentidos. Justamente por sermos cristãos e desejarmos estar no seio da “vontade de Deus” somos escravos de um complexo de culpa por nos dedicarmos a atividades várias, às demandas da nossa profissão, quando a igreja e o “trabalho do Senhor” clamam por atenção, ação e envolvimento. Somos, portanto:

- Escravos de uma visão que separa o secular do sagrado; o ganha-pão da adoração; a honestidade da vida e prática cristã da desonestidade e descaminho dos negócios.

- Escravos de uma visão curta que não enxerga a amplitude dos princípios apresentados nas Escrituras – de um Deus que é todo poderoso, criador e mantenedor do universo; que não nos deu, na Palavra, apenas um manual acanhado de Escola Dominical, mas um conceito e uma compreensão de vida que deve permear toda a nossa existência.

- Escravos de uma postura eclesiástica que declara a existência de duas categorias de servos de Deus – os que estão envolvidos em seu trabalho e os que estão servindo ao mundo.

- Escravos de uma postura profissional que nos coloca como alienados no meio de uma classe de pessoas perfeitamente integradas com o seu meio, enquanto que nós nos debatemos com contradições metafísicas, tranqüilamente agirmos na redenção da área em que estamos atuando.

No meio desse dilema e dessas tensões, a Fé Reformada aparece com todo o seu vigor e poder, como uma força libertadora dessa escravidão e opressão intelectual. Exatamente essa fé que é acusada de promover a escravidão das pessoas, pela sua rigidez doutrinária e subordinação ao conhecimento transcendente encontrado nas Escrituras.

Apresentando a pessoa de Deus em toda a sua soberania e majestade, a Fé Reformada não trata simplesmente de realizar uma INTEGRAÇÃO entre o secular e o sagrado, mas de demonstrar a abrangência das raízes espirituais de cada atividade, tornando o todo do conhecimento e das atividades humanas algo abrigado e aprovado pela providência divina, subsistindo o próprio Deus como fonte de todo o verdadeiro conhecimento e sabedoria.

É nesse contexto que se desenvolve a idéia e conceito da Educação Cristã. Uma proposta de educação que se harmoniza em sua totalidade com a revelação especial de um Deus soberano que tem na humanidade a coroa da criação e a quem delegou a absorção do conhecimento necessário a administrá-la.

Esse termo – “educação cristã” – tem sido empregado com significados diferentes e é necessário defini-lo e diferenciá-lo. Ele não significa transmissão de conhecimentos, ou instrução relacionada especificamente com religiosidade ou adoração; ele não significa, necessariamente, a apreensão de princípios bíblicos recebidos na Escola Dominical ou trabalhos eclesiásticos de domingo; a esse tipo de instrução cabe o nome mais adequado de “educação religiosa”. Assim, na denominação que sirvo, a Comissão de Educação Cristã e Publicações – que trata das questões relacionadas com a sua casa editora, com lições de Escola Dominical e Livros Evangélico-doutrinários, deveria, mais apropriadamente ser chamada – Comissão de Educação Religiosa e Publicações.

Educação Cristã significa, na realidade, o processo de penetração em todas as áreas do conhecimento humano, como preparo para o exercício de toda atividade moralmente legítima, sob a perspectiva de que Deus tem soberania sobre cada uma dessa áreas – nenhuma pode ser adequadamente compreendida quando estudada ou transmitida divorciada do conceito escriturístico de Deus. Quando praticada adequadamente e sob a diretriz da Fé Reformada, usufruímos pelo menos três aspectos do seu efeito libertador:

 

1. A Libertação pela Legitimidade de Envolvimento com todas as Áreas de Conhecimento.

Em Gênesis 1.28, temos a seguinte diretriz do Criador: “... Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo o animal que rasteja pela terra”.

Esse mandamento, pelo qual recebemos a delegação de dominar a terra e sujeitá-la, tanto em seus aspectos físicos como no que diz respeito à vida biológica que ela contém, tem sido chamado, por teólogos reformados do “Mandato Cultural” recebido pelo homem.

A implicação é que tal sujeição e domínio envolvem e só se tornam possíveis mediante a aquisição de conhecimentos sobre a criação que deve ser subjugada pela humanidade para a glória de Deus. Ou seja, a aquisição de conhecimentos, o envolvimento em todas as profissões e áreas de esforço intelectual e físico, da parte do homem, constitui-se em atividade legítima, para preenchimento da prescrição divina. Esse é um conceito libertador. Profissionais cristãos não precisam achar que são “crentes de segunda categoria”, mas devem visualizar-se a si mesmos como portadores de um chamado especial, para atuar em seus campos de conhecimento e realizações trazendo glória ao Criador de tudo e de todos.

Abraham Kuyper, em seu livro recentemente publicado em português – “Calvinismo”1 apresenta a harmonia desse entendimento – de que todas as esferas de conhecimento devem ser trazidas à sujeição ao Criador, com a Fé Reformada. Vejamos o que ele nos diz em quatro locais diferentes de sua obra:

a. O amor à ciência... que objetiva uma visão unitária de conhecimento de todo o cosmo, é eficazmente assegurado pela nossa crença calvinista, na pré-ordenação de Deus (p. 68).

b. A crença nos decretos de Deus significa que a existência e o curso de todas as coisas, isto é, de todo o cosmo, em vez de ser uma frívola seqüência do capricho e da chance, obedece à lei e à ordem. Existe uma firme vontade que executa os desígnios tanto na natureza, como na história (p. 69).

c. Somos forçados a confessar que existe estabilidade regularidade regendo todas as coisas... O universo, em vez de ser um amontoado de pedras - ajuntadas aleatoriamente - apresenta-se às nossas mentes como um monumental edifício erguido num estilo coerentemente austero (p. 69).

d. Sem esta visão, não há interconexão, desenvolvimento, continuidade. Temos uma crônica, mas não história (p. 67).2

2. A Libertação Providenciada pela Visão Unificada de Vida –

A Educação Cristã se propõe a dar uma visão unificada de vida; uma cosmovisão, na qual Deus está no Centro e pela qual entendemos o mundo no qual vivemos e o universo que nos cerca. Isso contrasta com a escravidão de uma visão de vida fragmentada e desconexa, como a educação secular nos apresenta, pela total carência e falta de um elemento unificador real.

O Salmo 19, é um dos trechos da Palavra de Deus, que nos apresenta tal cosmovisão unificada. Podemos dividi-lo em quatro partes:

a. Os versos 1-6 – Onde lemos sobre a Criação, procedente de Deus, e a harmonia inerente à mesma;

b. Os versos 7-10 – Onde encontramos que o resultado da obra criativa de Deus não subsiste em um vácuo moral. A criação está entrelaçada à lei de Deus – e essa é perfeita e boa.

c. Os versos 11-13 – Onde encontramos a realidade de uma criação caída. A queda é um incidente histórico e de conseqüências cósmicas morais. Qualquer cosmovisão que pretenda se aproximar da realidade, não pode ignorar os conceitos de pecado, correção e necessidade tanto de redenção como de direcionamento.

d. O verso 14 – Onde encontramos o objetivo da humanidade – Glorificar a Deus e desfrutar desse enquadramento em nosso propósito.

Aprender sobre o universo sob este prisma traz propósito de vida, visão realista e sentimento de libertação da opressão da ignorância espiritual e sua conseqüente opressão intelectual.

3. A Libertação pela Compreensão da Verdadeira Sabedoria –

A Educação Cristã é portadora da verdadeira sabedoria. Sabedoria é um passo à frente da aquisição de conhecimento – significa a aplicação correta do conhecimento adquirido. Sabedoria, liberta. O conhecimento – por maior que seja – aplicado erradamente, escraviza.

O livro de Provérbios é pródigo em seus ensinamentos sobre a sabedoria. Pelo capítulo 8, entendemos que:

a. Ela é a base da lei, da ordem, da paz, da prosperidade e da vida (8.13-21)

b. O Mundo foi Criado em Meio à Sabedoria (8.22-30)

c. A Humanidade é Capaz de Retratá-la (8.31)

d. O Caminho da Sabedoria Leva a Deus (8.32-35)

e. O amor à Sabedoria é o Amor à Vida (8.36)

Todos esses conceitos e equacionamentos da sabedoria verdadeira com a divindade e com os preceitos divinos, são abrigados e reforçados no Novo Testamento. Assim, ela é personificada em Cristo, como encontramos em 1 Coríntios 1.24 e 30.

Foi a teologia da reforma que enfatizou a educação e que demonstrou o entrelaçamento da divindade com todos os aspectos da nossa existência. É ela que libertou o intelecto humano – na essência e verdade dessa expressão. O homem moderno e pós-moderno se julga liberto “dos dogmas da religião”, mas prossegue se aprofundando na escravidão do pecado, embotando os seus sentidos.

Ao longo da história, expoentes da teologia reformada têm enfatizado a importância da educação, desde o seu precursor, Agostinho, que escreveu De Doctrina Christiana – um tratado sobre educação, sua importância e seus métodos – até os reformadores propriamente ditos.

Martinho Lutero disse: “Não aconselho ninguém a enviar os seus filhos para essas escolas onde as Sagradas Escrituras não reinam. Qualquer um que não se ocupe incessantemente com a Palavra de Deus, certamente se tornará corrupto. Conseqüentemente, devemos estar sempre vigiando o que acontecerá com as pessoas que estão nas escolas superiores... Temo que essas instituições de educação superior são portas abertas para o inferno, se não ensinarem diligentemente as Sagradas Escrituras e as colocarem nas mentes dos jovens”.3

João Calvino fundou em Genebra a “Academia Cristã” – uma instituição de ensino superior, demonstrando, mais uma vez, a importância da Educação e o seu papel chave na libertação do homem da opressão do pecado e de seu intelecto.

Abraham Kuyper, o estadista e teólogo holandês do século 19, já citado, ao fundar a Universidade Livre de Amsterdã, baseou a sua palestra inaugural em Isaías 48.11 – “A minha glória não a dou a outrem”, indicando que quando nos omitimos na esfera educacional, deixando que sejam proclamadas as filosofias anti-Deus – características do adversário – sem qualquer posicionamento e contestação de nossa parte, enquanto passiva e retraidamente assistimos aos seus avanços em todas as esferas e áreas do conhecimento humano, estamos fazendo exatamente o que Deus expressa não permitir: estamos deixando que a sua glória seja dada a outrem e que a escravidão à ignorância espiritual e intelectual seja perpetuada.

Agradeçamos a Deus a libertação ampla, geral e irrestrita que a salvação nos proporciona – fundamentada em sua graça e misericórdia. Abracemos, em toda a sua amplitude, a liberdade de entendimento contida na Fé Reformada, praticando o verdadeiro conceito da Educação Cristã.

1 Editora Cultura Cristã, 2002.

2 Paginação e tradução extraída de edição norte-americana.

3 Ewald M. Plass, What Luther Says (St. Louis, Missouri: Concordia, 1959)

Autor: Pb. Solano Portela

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Examinando e Expondo a Palavra de Deus aos Nossos Dias:

Isaías 1:18-20 "Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse."

Atos 17:2-3 "Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio."

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